Ensinar matemática é uma missão desafiadora e gratificante. Quando temos em nossa sala de aula uma criança com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), essa missão se torna ainda mais significativa. É preciso ir além do conteúdo e entender as necessidades específicas dessa criança — o que exige empatia, criatividade e, acima de tudo, compromisso com a inclusão.
Neste artigo, compartilho estratégias que já apliquei em sala de aula e que ajudam a tornar o ensino da matemática mais acessível para esses alunos. A ideia é criar um ambiente que favoreça o foco, a participação e o desenvolvimento da autoestima da criança.
1. Divida as Tarefas em Etapas Menores
Crianças com TDAH costumam se sentir sobrecarregadas com atividades longas, instruções complexas ou tarefas que exigem muita atenção contínua. Por isso, é fundamental fragmentar as atividades em partes menores, mais fáceis de compreender e executar.
📌 Como aplicar:
- Ao invés de entregar uma folha com 20 operações, ofereça blocos de 5 questões por vez. Utilize atividades de cálculo do numerozinho
- Use checklists visuais para que a criança possa ir marcando o que já foi feito.
- Dê instruções passo a passo e certifique-se de que a criança compreendeu cada etapa antes de prosseguir.
🔎 Benefício: Essa estratégia reduz a ansiedade e ajuda a manter o foco, dando à criança a sensação de que está progredindo.
2. Use Recursos Visuais e Manipulativos
Alunos com TDAH se beneficiam muito de materiais que envolvem os sentidos — ver, tocar, montar. O uso de recursos visuais e manipuláveis concretiza os conceitos abstratos da matemática, facilitando o entendimento.
📌 Exemplos:
- Blocos lógicos para ensinar classificação e atributos.
- Ábacos e cubos para representar operações e quantidades.
- Figuras geométricas em 3D, dobraduras, régua, fita métrica, entre outros.
- Quadros de centenas, cartazes ilustrados e jogos com cartas ou dominós.
🔎 Benefício: Ajudam a manter a atenção da criança e tornam o aprendizado mais divertido e tangível.
3. Incorpore Movimento à Aula
Pedir que uma criança com TDAH permaneça sentada, em silêncio e atenta por longos períodos é ir contra sua própria natureza. Incluir o movimento como parte da aula é uma forma de canalizar a energia da criança de maneira produtiva.
📌 Como fazer:
- Organize jogos matemáticos que envolvam movimento (como caça ao tesouro com números).
- Crie estações de atividades pela sala, onde os alunos trocam de lugar após completar uma tarefa.
- Use dinâmicas com dados gigantes, tapetes com números ou quiz oral com corrida até o quadro.
🔎 Benefício: O movimento melhora o foco e permite que a criança se mantenha engajada sem precisar “lutar” contra sua impulsividade.
4. Estabeleça Rotinas e Previsibilidade
Para crianças com TDAH, o imprevisível gera insegurança e desorganização. Por isso, uma rotina clara e consistente é essencial para promover segurança emocional e melhor desempenho acadêmico.
📌 Dicas práticas:
- Estabeleça uma rotina fixa para as aulas de matemática (ex.: 5 min de revisão, 10 min de explicação, 15 min de prática, etc.).
- Use relógios ou cronômetros visuais para marcar o tempo das atividades.
- Anuncie sempre o que vai acontecer na aula e o que se espera de cada aluno.
🔎 Benefício: A rotina ajuda na autorregulação, reduz comportamentos impulsivos e melhora a produtividade.
5. Crie Conexões com o Cotidiano
Alunos com TDAH se distraem facilmente com aquilo que não faz sentido para eles. Portanto, quanto mais próxima da realidade for a aula de matemática, mais envolvimento haverá.
📌 Como fazer:
- Use situações reais, como calcular troco numa compra, medir ingredientes de uma receita ou planejar um passeio.
- Apresente problemas baseados em histórias, esportes ou jogos que a criança goste.
- Leve a criança para fora da sala para medir o pátio, contar árvores, analisar formas e padrões na natureza.
🔎 Benefício: Ao perceber a utilidade da matemática, a criança se sente mais motivada a aprender.
6. Ofereça Feedback Positivo Imediato
Crianças com TDAH muitas vezes enfrentam críticas constantes. Por isso, o elogio sincero e imediato ao menor sinal de progresso pode fazer toda a diferença em sua autoestima e motivação.
📌 O que fazer:
- Elogie o esforço, mesmo que o resultado ainda não seja o ideal.
- Use frases como: “Você se concentrou muito bem agora!” ou “Ótima tentativa, vamos resolver juntos!”.
- Crie um mural de conquistas ou um sistema de estrelas, selos ou recompensas simbólicas.
🔎 Benefício: O reforço positivo ajuda a construir confiança, reduz a frustração e encoraja a continuidade do esforço.
7. Utilize Tecnologias Educacionais
As tecnologias podem transformar a experiência de aprendizagem, especialmente para crianças com TDAH. Jogos educativos, aplicativos interativos e plataformas gamificadas capturam a atenção e tornam a matemática mais prazerosa.
📌 Sugestões de ferramentas:
- GeoGebra: ideal para explorar conceitos de geometria e álgebra.
- Kahoot! e Quizizz: para quizzes rápidos e competitivos.
- Prodigy e Matific: jogos matemáticos com desafios personalizados.
- ClassDojo: para registrar comportamentos e conquistas.
🔎 Benefício: Estimula o foco por meio de estímulos visuais e auditivos, além de promover autonomia e aprendizado ativo.
8. Seja Flexível e Compreensivo
Cada criança é única. Para os alunos com TDAH, a rigidez excessiva pode bloquear o aprendizado. A flexibilidade do professor é uma poderosa aliada na construção de um ambiente inclusivo.
📌 O que significa ser flexível:
- Permitir pausas curtas quando a criança estiver inquieta.
- Oferecer diferentes formas de resolver um problema (oralmente, com desenhos ou usando o computador).
- Dar mais tempo para concluir tarefas ou aceitar respostas mesmo que o formato esteja fora do padrão.
🔎 Benefício: A flexibilidade mostra que a escola se adapta às necessidades do aluno, e não o contrário. Isso gera pertencimento, respeito e vínculo.
Conclusão
Ensinar matemática para crianças com TDAH não é sobre “dar conta” do comportamento delas, mas sobre criar estratégias para que elas tenham acesso real ao conhecimento. Ao transformar nossa abordagem, oferecemos mais do que números e operações: oferecemos a essas crianças a chance de se enxergar como capazes, inteligentes e pertencentes.
Como professor, acredito que “ensinar não é transmitir conhecimento, mas inspirar o desejo de aprender”. Esse desejo nasce quando o aluno percebe que a sala de aula é um espaço onde ele é valorizado e compreendido.
Vamos juntos construir uma matemática mais humana, inclusiva e significativa.