Por que ensinar bem o básico é mais urgente do que abraçar agendas ideológicas nas salas de aula
O Brasil vive uma das suas maiores crises educacionais: a epidemia silenciosa do analfabetismo funcional. Apesar dos avanços nas taxas de matrícula escolar, milhões de estudantes concluem o Ensino Fundamental e até o Ensino Médio sem saber interpretar um texto simples ou realizar operações matemáticas básicas. Isso é resultado de um sistema que, em muitos casos, abandonou o essencial para priorizar o acessório.
É preciso dizer com todas as letras: ensinar bem português e matemática nas escolas públicas deve ser prioridade absoluta. Sem essa base, nenhum outro conteúdo pode ser verdadeiramente assimilado. É hora de deixar de lado discursos vazios, políticas pedagógicas ineficientes e ideologias que confundem a missão da escola. O foco tem que voltar para aquilo que importa: alfabetizar, ensinar a ler, escrever, interpretar, calcular e resolver problemas reais.
O que é analfabetismo funcional?
O analfabeto funcional é aquele que sabe ler, mas não compreende o que leu; sabe fazer contas simples, mas não entende problemas matemáticos do cotidiano. Em outras palavras, é alguém que passou pela escola, recebeu certificado, mas não domina competências mínimas para a vida social, profissional e cidadã.
De acordo com dados recentes do INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional), apenas 8% dos brasileiros têm um nível pleno de alfabetização funcional. Isso significa que mais de 90% da população tem dificuldades para compreender textos mais complexos e realizar tarefas matemáticas intermediárias.
As causas do problema
- Abandono das disciplinas centrais
Muitas escolas públicas passaram a priorizar conteúdos “transversais”, “projetos interdisciplinares” e discussões políticas e ideológicas, em detrimento das disciplinas fundamentais. Isso esvazia a carga horária e dilui o foco em português e matemática, justamente as áreas que mais exigem treino, dedicação e método. - Metodologias pedagógicas equivocadas
Métodos construtivistas e pedagogias “libertadoras” – muitas vezes mal aplicadas – tiraram o protagonismo do professor e da estruturação clara dos conteúdos. O aluno é visto como “autor do seu saber”, mas sem orientação firme, não constrói nada. - Falta de cobrança e avaliação realista
Com a progressão continuada e o medo da reprovação, muitos estudantes passam de ano mesmo sem aprender. As avaliações são cada vez mais suaves, subjetivas ou ideologizadas, e não apontam com clareza onde o aluno está errando. - Despreparo e desvalorização do professor
Muitos professores da educação básica não têm formação sólida nas áreas em que ensinam, ou são pressionados a seguir metodologias ineficazes. Sem autonomia, sem respaldo e sem incentivos reais, o resultado é um ensino raso e ineficiente.
Por que o foco deve ser em português e matemática?
Porque essas são as ferramentas do pensamento. Quem não sabe ler bem, não aprende história, não entende ciências, não compreende a realidade. Quem não domina a matemática, não compreende lógica, economia doméstica, tecnologia ou empreendedorismo.
O domínio da língua e do raciocínio matemático é o que diferencia o cidadão livre do cidadão dependente. Sem isso, o jovem se torna presa fácil de manipulação política, fake news e discursos fáceis. Uma sociedade alfabetizada funcionalmente é mais consciente, mais produtiva, mais crítica — de verdade.
Propostas concretas para reverter o quadro
- Reforma urgente dos currículos escolares
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) precisa ser revista com foco nos conteúdos essenciais. É preciso aumentar a carga horária de português e matemática, especialmente nos anos iniciais. - Retorno aos métodos eficazes de ensino
O ensino direto, com ênfase na explicação, repetição e correção de erros, funciona melhor para alfabetizar e ensinar a pensar. O professor deve ter papel central, e o aluno deve ser cobrado com responsabilidade. - Avaliação nacional padronizada e anual
Aplicação de provas nacionais padronizadas e objetivas em todas as escolas públicas, com feedback claro para pais, professores e gestores. Isso permite identificar falhas e intervir antes que seja tarde demais. - Investimento em professores que sabem ensinar
Chega de formar educadores com foco apenas em “práticas pedagógicas” genéricas. O professor precisa dominar profundamente português e matemática. Provas de conteúdo devem ser exigência para concursos e promoções. - Programas de reforço intensivo no contraturno
Em vez de oficinas de artes ou debates políticos, as escolas devem oferecer reforço intensivo de leitura, escrita e cálculo para alunos com defasagem.
Conclusão: o básico é revolucionário
Num mundo em que muitos querem transformar a escola em palco de debates ideológicos e doutrinação, ensinar o básico com excelência é um ato revolucionário. Priorizar o português e a matemática é respeitar o aluno. É dar a ele ferramentas para construir o próprio futuro.
O combate ao analfabetismo funcional não depende de slogans bonitos ou de discursos progressistas. Depende de foco, responsabilidade e coragem de fazer o que é certo: ensinar com seriedade.
Se quisermos um Brasil mais justo, mais livre e mais desenvolvido, precisamos começar por onde tudo começa: uma sala de aula com um bom professor, um bom livro, uma lousa limpa e um aluno pronto para aprender o que realmente importa.